Casa Vogue de outubro celebra 30 anos da primeira coleção da designer Etel Carmona

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Poltronas Alta (década de 1970), de Oscar e Anna Maria Niemeyer, restauradas por Etel Carmona
Foto: Potyra Tamoyos

Recuperar técnicas tradicionais de marcenaria, executá-las a partir de desenhos de nomes da cena contemporânea e trazer de volta à produção o legado de mestres do design moderno define a atuação da designer

A revista Casa Vogue de outubro celebra três décadas da primeira coleção autoral da designer Etel Carmona, referência mundial do design modernista brasileiro, com uma reportagem especial na seção “Design”.

Na reportagem, a designer conta que tem uma relação sensorial com a madeira. Conhece os aromas das diferentes espécies, as variações sutis de coloração, os estalos característicos da secagem, o calor do tato. “Gosto de tocar os móveis. Sinto se uma peça atingiu o ponto certo passando o dorso da mão na superfície”, diz Etel.

Autodidata, atenta aos insights trazidos pelo acaso, Etel desenvolveu, em 1993, uma série de artigos para a inauguração da galeria Etel, então localizada na Rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, no bairro paulistano de Pinheiros. O lançamento também incluía móveis projetados pela designer Claudia Moreira Salles.

“Naquele momento, a marcenaria já estava muito bem estruturada e era conhecida pela excelência artesanal”, conta Claudia. “Procurei explorar as possibilidades dessa confecção primorosa em criações como o banco Iracema, que traz nos pés entalhes precisos, feitos com formão”, completa. Tratava-se de algo inovador para a época. “Desde os primórdios do design brasileiro, no início do século 20, buscava-se a industrialização, o mobiliário com poucos ornamentos, que pudesse ser produzido em larga escala. Mesmo pioneiros como Gregori Warchavchik e Lasar Segall seguiam essa premissa”, descreve Adélia Borges, curadora e professora de história do design.

Segundo ela, o modelo adotado por Etel abriu caminho para uma nova categoria: o design artesanal. “Cada móvel é manufaturado como se fosse uma joia, e a empresa usa essa expertise para produzir peças contemporâneas, pensadas por designers que entendem as demandas da sociedade atual”, arremata Adélia.

Depois de Claudia Moreira Salles, o portfólio cresceu com a chegada de Isay Weinfeld, Arthur Casas, Lia Siqueira, Carlos Motta e Dado Castello Branco, entre outros. Se a história parasse aí, já haveria razões suficientes para Etel ter seu lugar na cultura nacional. Mas a designer-empresária merece ainda crédito, ao lado das filhas, Lissa e Camilla (que hoje cuidam da gestão da marca), por seu empenho no resgate da memória do mobiliário moderno brasileiro.

Em 1998, de forma quase simultânea à mudança da galeria para a Alameda Gabriel Monteiro da Silva, a empresa deu início ao movimento que a transformaria numa das principais editoras de design do mundo. “Na época, o arquiteto Marcelo Aflalo, um dos herdeiros da Branco & Preto, nos trouxe a poltrona MF 5 de seu acervo e sugeriu que a peça, de 1953, voltasse a ser produzida por nós”, conta Lissa Carmona, CEO da Etel.

“Graças à iniciativa dele, estabelecemos nossa metodologia de reedição, que envolve um acordo formal com as fontes primárias, detentoras dos desenhos originais, ou seja, as famílias, as fundações e os institutos”, declara. Da proposta ao relançamento da poltrona, passaram-se cerca de quatro anos, tempo necessário para a afinação do modus operandi. Em paralelo, correram as negociações com os descendentes de Gregori Warchavchik – a Etel passou a fabricar, a partir de 2003, a mobília projetada pelo arquiteto nas décadas de 1920 e 1930. O retorno dessas preciosidades ao mercado, no início dos anos 2000, coincide com a valorização do design vintage brasileiro em leilões internacionais, o que levou à redescoberta de mestres modernos antes esquecidos por aqui.

Em 38 anos de empresa e 30 de coleção, ela conseguiu muito mais: internacionalizou a galeria, hoje com endereços em Milão e Houston, ajudou a avançar o manejo florestal no país, lançou talentos e reeditou os móveis de nomes como Oscar Niemeyer, Oswaldo Bratke, Vilanova Artigas e Zanine Caldas.

Além dos modernos e contemporâneos, o portfólio da Etel também reserva espaço para a nova geração, vertente da qual fazem parte Marcelo Alvarenga e Susana Bastos, da Alva Design.

Recuperar técnicas tradicionais de marcenaria, executá-las a partir de desenhos de nomes da cena contemporânea e trazer de volta à produção o legado de mestres do design moderno define a atuação da Etel. “Criei a marcenaria para resgatar uma arte esquecida”.

Confira o conteúdo completo na Casa Vogue de outubro, disponível em versão digital e nas melhores bancas do país.



SERVIÇO

Revista Casa Vogue | Edição 455 (outubro)

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