Ambientes fechados x problemas respiratórios

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A otorrinolaringologista Milena Costa explica como aparelhos de ar condicionado e aquecedores podem ter relação com a piora das infecções respiratórias, inclusive do COVID-19

Boa parte da população está em casa por conta da pandemia. E, mesmo se não fosse assim, com o clima frio, a tendência é ficar mais em ambientes fechados e, muitas vezes, com aquecedores ligados. “Com a chegada do outono/inverno, as infecções respiratórias são mais prevalentes por conta dos ambientes fechados”, diz a otorrinolaringologista Milena Costa. Além disso, há ambientes que não têm janelas ou então não podem ser abertas e não há outra opção de ventilação a não ser a artificial.

Por sua vez, esse tipo de ventilação pode trazer problemas, como gripes e resfriados e piorar quadros alérgicos de asma e rinite. “Aparelhos de ar condicionado e aquecedores diminuem a umidade do ar local, deixando-o mais seco. E isso pode interferir na função de filtro que o nariz exerce”, diz Milena. “O nariz tem a finalidade de filtrar, aquecer e umidificar todo o ar que entra por ali até chegar aos pulmões”, explica Milena.

Ela esclarece ainda que alguns tipos de vírus têm uma capacidade maior de sobreviver nas superfícies – o que inclui o ar condicionado. Portanto, é importante trocar o filtro constantemente, também por conta de poluentes, fungos, ácaros e poeira doméstica, que estão associados com a piora da asma e rinite alérgicas. “O ar condicionado pode deixar circulante os poluentes desencadeando as doenças alérgicas ou pode circular os vírus, levando a gripe e o resfriado”, afirma ela

A especialista também explica que de maneira geral, o processo que acontece em ambientes fechados é o de recirculação do ar e isso pode levar a uma propagação de possíveis organismos presentes no ar. “O vírus não fica dentro do aparelho. O dispositivo recircula o ar para dentro do ambiente, mandando o ar infectado para áreas que possivelmente não estariam contaminadas.”

Umidificar o ambiente pode ajudar, mas isso também precisa ser feito de um jeito correto. Ambientes muito úmidos podem contribuir para a proliferação de fungos e bactérias. Por isso a médica reforça a importância de, sempre que possível, deixar pelo menos as janelas semiabertas. “É importante a circulação do ar externo para trazer ar não contaminado para dentro dos ambientes.”

Vale o alerta!

Assim como as outras infecções ou doenças respiratórias, o coronavírus tem como uma de suas principais características o acometimento e comprometimento do sistema respiratório. “Gripes e resfriados são adquiridos pro gotículas respiratórias, assim como o COVID. Essas gotículas ficam suspensas e o ar condicionado e os aquecedores acabam recirculando esse ar contaminado por vírus e bactérias,” relata a médica.

Pesquisadores mostraram, em artigo publicado no periódico Emerging Infectious Diseases, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, sigla em inglês) dos Estados Unidos, que em um restaurante na China houve a contaminação de três famílias pelo coronavírus devido ao fluxo do ar condicionado do local. “O ar condicionado gerou um fluxo laminar, e nas três mesas que receberam esse fluxo houve a contaminação dos pacientes,” explica Milena.

O estudo reforça a ideia da recirculação do ar em ambientes fechados e a proliferação de microrganismos até locais que teoricamente não estariam infectados. E por conta disso a médica frisa: “As pessoas com sintomas de infecções de via aérea não devem ficar nesses ambientes fechados porque podem transmitir o vírus. É importante o uso de máscaras, principalmente em locais fechados, e o distanciamento também pode ajudar.” O que vai de encontro com as medidas indicadas como forma de combate ao COVID-19 e o que possivelmente se tornarão habitual no pós-pandemia.

Sobre a Dra. Milena Costa

Médica otorrinolaringologista formada pela Faculdade de Medicina de Taubaté, com residência médica em Otorrinolaringologia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e fellowship de pesquisa em Rinologia pela Stanford University, na Califórnia.

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